terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Os Verdes Anos em ritmo latino americano…Capítulo VIII












Eu já estava a viver no Brasil há dois anos, mas para a Luísa tudo era novo, o país, os novos amigos, a procura de uma carreira profissional, o contacto mais próximo com a minha família e a falta da envolvente do seu círculo social e familiar.
Os primeiros meses vivemos no apartamento da minha mãe na Rua Duque de Caxias em Porto Alegre, enquanto reuníamos as condições financeiras para ter o nosso próprio apartamento.
Encontrámos um apartamento T1 num prédio novo na avenida Independência que nos encheu as medidas. Era bem central, com garagem, servido de transportes públicos e num bairro nobre da cidade.
Para um casal novo e ainda sem filhos era a solução ideal.
Comigo a trabalhar durante o dia, com tempo livre e as contas domésticas a crescer, era importante para a Luísa encontrar uma ocupação profissional.
Tentou uma equivalência curricular que lhe permitisse voltar a dar aulas, actividade que já tinha encetado antes de sair de Portugal.
Após o contacto com colégios particulares, este processo revelou-se algo complexo e burocrático. Na década de 70 dos século passado, Portugal e Brasil, apesar das declarações politicamente correctas e diplomáticas, que se apoiavam na história e culturas comuns, de proximidade tinham muito pouco, o que se revelava de forma gritante em diversos aspectos práticos do nosso dia a dia enquanto estrangeiros. As conexões eram essencialmente semânticas, pouco institucionalizadas e muito dependentes da força de vontade individual em conseguir uma integração profissional, social e da sorte em encontrar uma comunidade facilitadora da inserção.
Se este aspecto se revelou condicionante para a vida profissional da Luísa, o que a levou a optar por um trabalho de secretariado no escritório de um advogado conhecido, por outro lado o acaso da vida veio a aproximar-nos de um rapaz, correspondente de uma prima minha e que se transformou no grande amigo que é até hoje
Foi o Paulo Rosa que nos abriu as portas para a sua família, os seus amigos e nos introduziu na sociedade local.
Um pormenor que gostaria de destacar, onde se leu atrás correspondente estou a falar de alguém que se comunicava com um amigo ou amiga por carta, porque nesta época já remota ainda não conhecíamos as facilidades telemáticas como a telefonia celular, os SMS ou a Internet. A inesperada coincidência é que no meio de um país tão vasto, com uma população de cerca de 150 milhões de pessoas, a minha prima correspondia-se exactamente com um rapaz em Porto Alegre, uma cidade e região de forte influência europeia, mas não necessariamente portuguesa…
Uma vez ultrapassado o estigma que todo o português nessa época carregava, de baixa escolaridade e provincianismo, fruto do perfil de emigração existente até à Revolução de 74, os nossos novos amigos deram-se conta de que estavam perante um outro estilo de portugueses, que desconheciam até à data. E isto facilitou a nossa integração.
Viajámos muito, divertimo-nos imenso, convivemos com gente diferente de nós, mas nem por isso sentimos qualquer barreira ou ostracismo.
A vida a dois foi um constante aprendizado! Em todos os domínios, os episódios sucediam-se…Lembro, uma ocasião em que, dando ambos os primeiros passos nos domínios gastronómicos, tivemos um percalço com uma carne que estava no frigorífico, lamentavelmente encastrado e exposto ao sol, o que se veio a revelar fatal para a boa conservação da referida carne, o que a fez adquirir um pouco saudável tom esverdeado…
Ora, como os tempos eram de orçamento apertado, e fazendo apelo a uma máxima que me foi inculcada pelos ancestrais de que “mais vale fazer mal que deitar fora”, lá me pus a cozinhar a mal apresentada carne, tentando disfarçar com tempero um sabor que já não era dos melhores! E comemos a referida carne, estando até hoje vivos para o contar…
Tempos houve de maior felicidade e alegria, tempos houve de zangas e birras. Altos e baixos que eram situações normais naquela que era e é uma relação suportada por amor e paixão.
Aprendemos a viver juntos, a conhecer-nos intimamente, a “tocar de ouvido” como costumo dizer, a tolerar o ponto de vista diferente que o outro possa ter, a apreciar a presença um do outro e a sentir a dor da sua ausência.
A História segue dentro de momentos...

3 comentários:

  1. Fico Assim Sem Você - Adriana Calcanhotto

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  2. Adoro ver as vossas fotografias ;) que lindos! Já foram novinhos como nós somos agora!!!

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  3. Legenda das Fotos (de cima para baixo):
    1 - Gramado (serra gaúcha);
    2 - Cozinhando no nosso Ap da Av. Independência;
    3 - Com amigos no nosso Ap da Av. Independência;
    4 - Na praia em Laguna (Santa Catarina);
    5 - No Parque Ibirapuera, em S. Paulo;
    6 - Em Foz de Iguaçu, num aniversário de casados;
    7 - Na varanda do Ap da Rua Duque de Caxias;
    8 - No terraço do Ap da Rua Duque de Caxias;
    9 - Em Canela (serra gaúcha);
    10 - Em Canela (serra gaúcha);
    11 - No Itaimbézinho, acampados no canyon do Parque Natural dos Aparados da Serra

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